Esse é o segundo volume da série Entre a realidade e a invenção, o título antecessor “Memorias da infância em que eu morri” já foi resenhado aqui no blog.


Nesse segundo volume da trilogia "Entre realidade e invenção" acompanhamos um Hugo mais velho já curado do câncer enfrentado enquanto criança. Vemos um significativo avanço na história do Hugo, o personagem é bom lembrar. O segundo livro, assim como o primeiro, é dividido em partes.
No início, somos apresentados ao atual estado da família de Hugo, a mãe já curada da depressão e trabalhando como corretora de imóveis, o irmão empenhado nos estudo e o pai continua trabalhando na agencia de advocacia. Nesse início somos apresentados ao primeiro plot do livro e o que da significação ao título. Hugo que ver um psiquiatra para tratar da sua ansiedade, que é tida pela mãe com uma besteira e algo passageiro. Mas Hugo vai se consultar, de inicio sem diagnóstico, mas logo depois começa o tratamento com antidepressivos e ansiolíticos.
Na segunda parte, acompanhamos o início do tratamento de Hugo e sua adaptação ao medicamento, além de conhecermos um pouco mais memórias da infância dele, mas precisamente da escola São Bento, onde ele e o irmão fugiam no intervalo entre as aulas para comprar livros e tomar café. Aqui somos noticiados dos problemas financeiros que a família passou e que Hugo escolheu o jornalismo como profissão. E também acompanhamos as crises de ansiedade sofridas por ele e a sua entrada na faculdade. Além de vermos as brigas entre o irmão de Hugo e o pai a respeito da política brasileira por conta das visões antagônicas que ambos possuem. Os livros nesse período se tornaram um refúgio para as crises de ansiedade enfrentadas por Hugo.
E agora na faculdade eu saía das aulas para ficar lendo romances, contos, crônicas, poesia, no anfiteatro, e no ônibus voltando pra casa eu não tirava os olhos das páginas dos livros. De onde veio essa necessidade de ler mais e mais? Será que encontrei na leitura uma forma de diminuir minha ansiedade ou de me afastar do mundo real? (p.89)
Na terceira parte, acompanhamos Hugo na universidade, somos apresentados a sua nova rotina e a seus primeiros estágios, tudo isso acompanhado da sua ansiedade e dos seus medicamentos. Aqui vemos um Hugo desinteressado na política, e mesmo cursando jornalismo, sabe pouco ou quase nada sobre os eventos ocorridos em dois mil de quatorze, como as manifestações contra Dilma e o PT, os escândalos de corrupção e outros eventos que marcaram o nosso país. Nessa parte, Hugo começa no estágio no Jornal da PUC e tem o seu primeiro contato com o jornalismo, logo depois consegue uma vaga na Veja.
Trabalhando na Veja, Hugo, somos apresentados à Luiza, uma repórter da revista que junto dele e outro repórter eram a equipe da revista. Ele abre mão de boa parte dos estudos e começa a focar na sua carreira como jornalista elevando o seu status perante a mãe, que desde o último estágio já não o considerava mais um menino, mas sim um homem de responsabilidade. Vivendo praticamente dentro da redação da revista ele com o passar do tempo começa a ver que a imparcialidade não é algo muito presado pela editoria da revista. E decide mudar as coisas na sua vida, tentar tomar de vez os rumos da sua vida.
Você acha que hoje a mídia brasileira é capaz de derrubar um presidente? Ela me respondeu que sim, que a mídia brasileira tem muito poder sobre a sociedade, e guardou o laptop dentro de uma pasta.”(p.180)
E então no fim, vemos a luta de Hugo para parar de tomar os medicamentos, a relação explosiva que ele tem com a mãe e a radicalização da sua vida. Ele torna-se um ser mais político e assume um posicionamento, digamos que sem certos aspectos, extremo. E também começa a engatinhar como escritor, nessa parte somos apresentados a ideia do primeiro volume dessa trilogia e ao seu título. Aqui vemos a dificuldade que ele passou para conseguir convencer a família que ele iria se arriscar tentando escrever.

Minha opinião:

Nas primeiras partes, durante o tratamento com remédios, sempre que Hugo vai falar sobre alguma coisa específica, como fobias, remédios, contra indicações e sintomas, ele faz listas longas sobre esses temas, mas nada que atrapalhe o andamento do livro.
O livro, diferente do primeiro, é bem marcado temporalmente, com eventos marcantes e com datas específicas. Essa é uma ótima continuação do primeiro volume, mas admito que ainda preferi o primeiro, creio que por ter me relacionado mais com a história. É inegável o amadurecimento do autor na escrita. Nesse segundo volume temos uma imersão na área jornalística, tanto na faculdade de jornalismo como na profissão de jornalista em si, tudo com o mesmo humor irônico do primeiro volume. Também vemos os primeiros contatos de Hugo com jornalistas que viraram escritores deixando de lado os jornais e focando sua vida à literatura e a escrita.
Esse é um livro mais maduro, em todos os sentidos, dos temas abordados até a escrita. Aqui vemos um autor mais seguro com o que quer escrever e com os riscos que corre em escrever uma auto-ficção, isso fica explícito na Nota do Autor na introdução a obra.
Diferente do primeiro volume esse termina em aberto, sem uma conclusão dando a entender que o próximo volume da trilogia não ira se passar muitos anos depois, como foi o caso deste volume.
Esse é um bom livro, de leitura rápida e com os temas bem trabalhados. Em algumas partes nessa “brincadeira” involuntária de tentar adivinhar, por mais que eu jamais tenha essa confirmação, o que é real ou não, eu comecei a desconfiar de certas falas e acontecimentos. Mas como no primeiro livro, só que sabe o que realmente aconteceu é o Hugo, autor.

Você não vai conseguir se escrito, você pode até escrever bem, mas escritores vem de famílias ricas, têm contatos no mercado editorial, Não é bem assim..., Você conhece alguém pra ser seu padrinho, Não, respondi, Então repito, tira essa ideia maluca da cabeça, por que você só vai perder, e como diz o ditado, tempo é dinheiro. (p.243)